sexta-feira, 22 de março de 2013

Sobre a absoluta necessidade de usar a palavra poia quatro vezes num texto






Caríssimos, hoje é dia de divã virtual e vocês estão indigitados como meus Freud's, quer queiram quer não. O que vos vou relatar sucedeu aqui há dias, e deixou-me qual mulher de Almodóvar, à beira de um ataque de nervos. E como o primeiro passo é assumir o problema, aqui me desbronco junto a vós, na expectativa de manter a minha sanidade mental acima da linha de água. Já o meu Sporting, não sei se terá a mesma sorte... Mas adiante. Vamos aos factos.


Era uma noite  fria e chuvosa. Voluntariosa como só eu, não obstante a precipitação que se abatia, ofereci-me para abrir o portão para que o excelso marido estacionasse o carro, e as excelsas crias não se molhassem. Graças a uma visão tão aguçada como a do olho de vidro do José Cid, vislumbro junto ao meu belíssimo malmequer aquilo que me parece ser, perdoem-me o vocábulo coloquial, uma poia de dimensão mediana. Numa fracção de segundo, questiono-me mentalmente como é que a dita poia teria ido ali parar, visto que o canídeo lá de casa se encontrava preso, consequência da sua capacidade destruidora apenas comparável a alguns fenómenos sísmicos de alta cilindrada (a coisa é de tal forma, que tenho de avisar a Protecção Civil quando o solto. É alerta laranja, na certa...).


Eis senão quando, detecto com a minha mira de lince vendado, algo que não se coadunava com a tese da poia: um par de olhos! Não, não eram fezes. Era um sapo! Agora vamos contextualizar: eu tenho pavor, fobia, terror, cagunfa, miaúfa, téfe-téfe de sapos!  Para que percebam a gravidade da situação, um dos episódios mais traumatizantes/humilhantes da minha vida, ocorreu no Cinema Monumental durante o visionamento do filme (excelente, diga-se) "Magnólia", onde como certamente se recordarão ocorre uma chuva dos ditos batráquios. Meus amigos, vou tentar descrever a minha reacção de forma eficiente: para ser uma imitação perfeita da cachopa do "Exorcista", só me faltou vomitar verde. Se esta fobia é característica de indivíduos da etnia cigana, não passo de hoje sem piratear a discografia completa dos Ciganos D'Ouro, a ver se me ligo às minhas raízes.


Mas voltemos ao episódio que aqui me trouxe: após a constatação de que se tratava de um sapo e não de uma poia, segue-se um surto psicótico que me é difícil de descrever, pois reabre a ferida. A Júlia Pinheiro, a Cristina Ferreira, e todas as peixeiras do Bolhão encarnaram em mim. O Inferno de Dante aconteceu no meu jardim. Não fosse o meu super herói de serviço ter afastado aquele vilão peçonhento, eu não estaria aqui para contar a história. E querem as Cosmopolitans e afins convencer-me que um homem não faz falta. Queria ver um massajador facial a salvar-me a vida, como o meu marido fez. Justiça houvesse, e o Cavaco Silva havia de distingui-lo, com medalha ao peito e tudo. Mas para bicho repelente nesta história, já basta o sapo.


Pois é. Agora cada vez que saio de casa, parece que estou num teatro de guerra. É ver-me a olhar para todos os lados à coca de um sniper saltitão, a pisar o meu pátio como se de um campo de minas se tratasse, sempre em alerta máximo. E saliento que não tenciono baixar a guarda, apesar de todos os que me rodeiam insistirem em garantir que o bicho é inofensivo, só ataca quando atacado, que é só nojento, asqueroso e peçonhento. Não me admirava nada que tivessem usado estas mesmas palavras para sossegar o recém-desempregado Nuno Santos, quanto ao Miguel Relvas. Viram no que deu?


E sobre animais-abjectos-que-inspiraram-músicas-cantadas-pela-pequena-Maria-Armanda, foi o que se me ofereceu dizer...



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