quarta-feira, 21 de março de 2012

Desabafos: "Nunca me engano e raramente tenho dúvidas"

"Nunca me engano e raramente tenho dúvidas"
              
                    - Aníbal Cavaco Silva

Tornar-se-ia demasiado entediante (se é que não estão já aborrecidos) enumerar os pontos em que estou em desacordo com o Presidente da República Portuguesa, pois são inúmeros. Apenas a título de exemplo: não gosto de bolo rei, não como de boca aberta, engano-me amiúde, e dúvida é o meu nome do meio.


No entanto, existem uma série de coisas sobre as quais tenho muito poucas dúvidas, e resolvi partilhar algumas convosco (contenham o entusiasmo, já estou a sentir o soalho a tremer debaixo dos pés... Esqueçam, foi o Metropolitano que passou, diz que hoje não há greve). Resolvi chamar-lhe: Lista de Coisas sobre as quais tenho muitos poucas dúvidas. Ora toma, por esta é que não estavam à espera. Então cá vai:


- Se o meu marido me liga a meio da tarde para o emprego não é para perguntar como é que me está a correr o dia. É certo que a chamada começa com um "Está tudo bem, querida? Como é que te está a correr o dia?", mas invariavelmente desagua num "Estava a pensar ir jogar à bola/pescar...". Não me entendam mal, eu até acho fofinho. Ele finge que precisa da minha aprovação, e eu finjo que aprovo.

 

- Se a minha filha me diz: "Mãe estava a pensar pedir-te uma coisa, mas acho que não vais deixar...",provavelmente eu não vou mesmo. Justiça lhe seja feita: tão depressa é atacada por um surto de insanidade "Gostava taaaantoooo de ir ver os LMFAO ao Campo Pequeno !" como desce ao Planeta Terra assim que vê a minha cara a transformar-se no Vesúvio "Mas eu sei que não posso, porque só tenho onze anos, por isso esquece, Mãe, esquece..." Não me entendam mal, eu até acho comovente. Ela finge que é sensata, e eu finjo que acredito.

 

- Se o meu filho me aparece com cara de carpideira (daquele género que entra na igreja em pranto, vai direitinha ao caixão contemplar o semblante do presunto e ainda em soluços pergunta ao vizinho do lado "Tão novo, coitado! Quem era?") a queixar-se que foi  agredido pela irmã, qual talibã de bandelete, é certo e sabido que ele sim, lhe chegou a roupa ao pêlo. Digo mais, consigo classificar na escala de Richter a magnitude da lambada, pela cara dele: beicinho traduz-se num simples safanão, se me aparecer com  lágrimas em fio e tudo é porque a desgraçada ficou com uma nódoa negra de recuerdo. Não me entendam mal, eu até compreendo a dinâmica. Eu já fui a talibã de bandelete, e tinha um irmão que faria o Bin Laden corar.


- Se o Cavaco Silva diz estar sem apetite para usar a bomba atómica , em referência à dissolução do governo (19/01/2011), é certo e sabido que o detonador já estava na poltrona do Sócrates (31/03/2011), e não havia MacGyver por perto para cortar o fio azul (na dúvida é sempre o azul).  Se o mesmo Cavaco Silva diz que há dois anos já tinha avisado que estávamos à beira de uma situação explosiva (28/06/2011), se calhar esqueceu-se que há dois anos já era Presidente, e se não apagou o rastilho foi porque estava mais preocupado com as eleições para o segundo mandato. E para acabar, se o Sr. Aníbal diz que os seus rendimentos não chegam para fazer face às despesas, é... é... É simplesmente porque perdeu a vergonha na cara. Não me entendam mal, não é que seja novidade. Mas se vocês já se habituaram, eu teimo em não me habituar.


E quanto a isso, sem sombra de dúvidas, é o que se me oferece dizer.



















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